Lembrar duas frases ditas por representantes da burguesia monopolista

Eu quero discutir uma ideia, que é a de estudar a história do Partido Comunista da China e da República Popular da China a partir da perspectiva das mudanças no cenário internacional.

Da Guerra do Ópio de 1840, até a história da fundação da República Popular da China, essa foi a história de agressão, pilhagem e escravidão do capitalismo contra a China. Por esse fato básico, as pessoas que foram vítimas do imperialismo têm diferentes graus de sentimentos, assim como diferentes níveis de compreensão do problema. No entanto, nossa juventude atual, que nasceu depois da fundação da RPC, já se aproxima de camaradas de meia-idade e não possuem experiência pessoal com esses cem anos de história. Quase todas as superpotências, uma atrás da outra, vieram nos enganar, saquear, colocando-nos em uma posição de escravidão. Esse tipo de experiência não pode ser entendido por nossos jovens. Algumas pessoas são indiferentes a esse período histórico, como se nada tivessem a ver com ele, sem nenhum tipo de sentimento. Inclusive, há algumas pessoas que dizem que, para a China se desenvolver, melhor seria passar por trezentos anos de colonialismo. Vale a pena refletirmos sobre o fato de que essas palavras podem ser proferidas sem provocar a indignação das pessoas.

No passado escrevemos muitas obras sobre a invasão imperialista na China. Eu espero que aja um livro dedicado a explicar a agressão do capitalismo internacional contra a China, desde a Guerra do Ópio, a assinatura dos tratados desiguais, o massacre de nosso povo, a pilhagem de nossos recursos, a ocupação de nosso território, o conluio dos governos locais com os vários imperialismos; a venda da nossa soberania e de nossos interesses nacionais. É necessário que escrevamos bem detalhadamente, concentrando nesse período da história. O Secretário-Geral Jiang Zemin apontou que devemos educar os jovens com a história moderna, o que possui grande significado prático e também fornece a todos os camaradas que estudam história um importante tópico. A história da China moderna é de fato sangrenta. Durante o período da agressão imperialista, o número de pessoas massacradas é difícil de ser numerado. Apenas durante a Guerra de Resistência ao Japão foram mais de 20 milhões de mortes. Ao longo desses mais de cem anos, quantos chineses foram massacrados e quantos heróis sacrificaram suas vidas? Quanto dinheiro nos foi tomado pelo imperialismo, por meio de pagamento de indenizações, tomada de terras, exploração dos nossos recursos minerais, etc. Quantos tratados desiguais foram assassinados? Quais tipos de perda nossa nação sofreu por cada um desses tratados? Há uma grande necessidade por materiais completos, informativos e específicos para a educação.

O Partido Comunista da China não é algo que surgiu sem motivo. Depois da Guerra do Ópio, o povo chinês nunca parou sua luta contra a guerra imperialista. O incidente de Sanyuanli, a Rebelião Taiping, o Movimento Anti estrangeiro, a Revolta dos Boxers, a Reforma Kang-Liang, a Reforma dos Cem dias e a Revolução de 1911, recorda que os chineses estavam dispostos a não serem humilhados. Porém, por não possuírem a liderança de uma classe avançada como guia, tais lutas fracassaram. A Revolução de 1911, liderada pela burguesia, derrubou o sistema monárquico feudal, porém não alterou a natureza semicolonial e semifeudal da China. A história exigia a liderança de uma nova classe e de um pensamento avançado. O Movimento 4 de maio foi o preparativo ideológico e organizativo do Partido Comunista da China. O aprofundamento da agressão imperialista despertou a resistência entre os intelectuais, e depois entre a classe trabalhadora e outros setores do país, fazendo eclodir um movimento anti-imperialista e anti-feudal nunca visto na história do país. Sem esse pano de fundo histórico, os preparativos ideológicos e organizativos para o estabelecimento do Partido não seriam possíveis. Naquela época a influência da Revolução Russa foi muito importante. Como disse o Presidente Mao, a Revolução de Outubro nos trouxe o marxismo-leninismo. O Partido Comunista da China surge como a combinação do marxismo-leninismo e o movimento operário. Se não fosse a Revolução de Outubro e a ajuda da Internacional Comunista, a fundação de nosso Partido teria sido adiada em muito tempo. A fundação do Partido Comunista da China, sua relação com a luta anti-imperialista e o apoio e assistência do comunismo internacional são tópicos que precisam ser bem estudados.

A história de nosso Partido não está separada da história do Movimento Comunista Internacional, assim como da luta interna entre marxismo e anti-marxismo; não está separada da luta entre duas ideologias e dois sistemas sociais, capitalismo e socialismo. A julgar pela situação recente, há duas frases que cada um dos membros do Partido, cada simpatizante do comunismo, devem ter em mente. A primeira frase foi dita por Nixon, quando discutia a questão da ajuda ocidental à União Soviética: “O ocidente não estava tentando salvar Moscou economicamente, mas sim destruir o sistema comunista da União Soviética”. A segunda frase é a recente declaração do Secretário de Defesa dos EUA: “a recusa da China em abandonar o sistema comunista é uma das mais sérias ameaças aos Estados Unidos e aos países da região do pacífico”. Essas duas sentenças representam a avaliação da burguesia monopolista norte-americana sobre a atual situação política e suas principais decisões são tomadas baseadas nesses princípios.

Nixon falava sobre a destruição do sistema comunista da União Soviética. Eles não só falaram, como assim o fizeram. Dentro da União Soviética havia pessoas que cooperavam com eles. Comentadores dizem que os recentes resultados eleitorais mostram que o Partido Comunista perdeu sua posição enquanto partido dirigente. A seriedade desse problema merece atenção.

A situação do Exército soviético também mudou. Devido a abolição da cláusula na constituição, que garantia a liderança do Partido, foi negado completamente o princípio elaborado por Lenin da construção do Exército sob a liderança do Partido. Para se adaptar a essa mudança, os departamentos políticos não estão mais na posição de exercer a liderança do Exército pelo Partido, mas como parte integral dos comandantes militares em todos os níveis, engajados no trabalho cultural e educacional. Ainda que naturalmente, devido a perseverança de forças saudáveis dentro do Exército, organizações do Partido ainda existem, mas não possuem mais a liderança sobre o Exército, são como qualquer outra organização política e social. As forças anticomunistas agarram firmemente a questão chave de “o exército de um país governado pela lei deve ser nacionalizado”, se opondo firmemente a existência de organizações do Partido Comunista dentro do exército. Atualmente, as forças anti-comunistas já passaram da fase de atrair soldados para a participação de organizações políticas na sociedade, para estabelecer suas próprias organizações dentro do exército.

Em um recente artigo publicado na revista “Comunista nas Forças Armadas” foi apontado que: “a luta entre vários partidos e o Partido Comunista da União Soviética já começou”. Atualmente eles fazem preparativos para abolir as atividades do Partido dentro do exército. Membros individuais ainda podem manter sua filiação ao Partido, mas as organizações do Partido não existem mais. Se assim continuar, a despolitização do exército ocorrerá.

Seis países do Leste Europeu já passaram por violentas mudanças e a Iugoslávia está em estado de fissura. As drásticas mudanças no Leste Europeu demonstram que o socialismo está em baixa.

Por isso, a nossa luta contra a liberalização burguesa não é de um ou dois dias, um ano ou dois anos. Devemos também considerar a influência do chamado socialismo democrático estrangeiro. Nós precisamos estudar essa tendência de pensamento e fortalecer internamente a educação de amplas massas de membros do Partido, desenhando uma clara linha de demarcação entre o socialismo científico e o socialismo democrático.

Nós precisamos prestar séria atenção ao desenvolvimento da situação, elevar nossa consciência, sermos realistas e fazermos bem nosso próprio trabalho. O impacto é inevitável, mas ele deve ser amenizado ao máximo possível. Camaradas que estudam a história do Partido e do país possuem uma grande responsabilidade nesse quesito. Nós devemos melhorar a imunidade dos membros do Partido, quadros e massas através do trabalho de pesquisa e propaganda, ousando lutar e sermos bons na luta.

Muitos de nossos camaradas já perceberam que depois da guerra do golfo, os Estados Unidos inevitavelmente irão inclinar suas tropas para o oriente, fazendo frente a China. A inclinação para o Oriente não significa mobilizar tropas, mas sim mudar sua atenção para a China como um dos focos de sua política externa e atividades.

Primeiramente, há a questão do tratamento nacional mais favorável.

Bush, como um inteligente representante da burguesia monopolista dos Estados Unidos, merece ter suas políticas investigadas. Ele não fala abertamente, deixando que aqueles elementos anti-chineses, os chamados “falcões”, ataquem o Partido Comunista da China, o governo e o povo chinês, colocando adiante várias propostas e condicionalidades, algumas muito duras. Eles dizem que somente quando a China aceitar essas condições se poderá seguir mantendo o tratamento de nação mais favorecida. Através de seu governo eles transmitem tais condições, exercendo pressão e esperando que nos rendemos. Sobre essa questão, o Comitê Central do Partido, com o camarada Jiang Zemin como núcleo, possui uma atitude muito clara e uma estratégia muito flexível. Como disse o camarada Li Peng, nós lutamos para manter o tratado de nação mais favorecida, mas ao tempo estamos preparados para a pior possibilidade.

Claramente, o tratamento de nação mais favorecida não é um presente de uma parte para a outra, mas algo de benefício mútuo. Nós nos beneficiamos, mas eles também se beneficiam. Se eles romperem, sofreremos perdas, mas eles também sofrerão perdas. Nós não aceitaremos quaisquer condições. Caso eles continuem, nós lhe daremos boas vindas; caso eles parem, nós não temeremos. Neste caso, Bush aparece para falar que eles devem continuar. Depois, não exigiu condições adicionais, trabalhando no congresso, dizendo que os Estados Unidos possuem mais de mil empresas e 1 bilhão de dólares em investimentos na China. Se o tratado de nação mais favorável for abandonado, não só os lucros dos Estados Unidos serão prejudicados, mas a taxa de emprego também será afetada. Além disso, também é uma verdade que se o tratado for abandonado e os contatos entre os dois países rompidos, não haverá mais meios para eles terem contatos com a China. Trata-se de uma consideração política e estratégica, para seguir influenciando e promovendo a estratégia da “evolução pacífica”. O próprio Bush afirmou: “o tratado de nação mais favorecida é um caminho para o mundo influenciar a China”. “Implementar uma política para influenciar a China, essa é uma questão vital”. Portanto, nesse aspecto, Bush é mais sábio do que aqueles “falcões”. Os representantes políticos da burguesia monopolista norte-americana não podem ser subestimados. Eles obtiveram sucesso no Leste Europeu e na União Soviética. Algumas pessoas estimam que nesse caso, pelo fato de a China se recusar a abandonar o sistema socialista, a burguesia monopolista ocidental, dirigida pelos EUA, provavelmente se concentrará na “evolução pacífica” da China. Sobre essa questão, nós comunistas chineses devemos ser sóbrios, não olharmos somente a aparência dos fenômenos, vendo os gestos calmos, ouvindo palavras amigáveis e sermos confundidos por elas.

O Movimento Comunista Internacional está em baixa. Parece que ainda não atingiu o seu ponto mais baixo, mas isso é algo que ainda continua. A burguesia monopolista internacional obteve repetidos sucessos, está embriagado com eles, por isso intensificam seus ataques. Nixon disse que em 1999 eles venceriam sem lutar. Bzerzinsky afirmou que no final do século o comunismo seria derrotado em todo o mundo. Depois de Bush ter sido eleito presidente ele lançou uma estratégia de superar a contenção, passo a passo abrindo o caminho para entrar no Leste Europeu

Quando estudamos a história de nosso Partido e a história de nosso país, nós devemos levar em conta o ambiente internacional que vivemos, tendo um claro e profundo entendimento da situação, assim como estar mentalmente preparados. Com um bom preparo as coisas correrão bem. Com uma população de 1.1 bilhões de pessoas, aderindo o caminho socialista e seguindo a liderança do Partido Comunista, com a melhora da situação, a causa do comunismo mundial terá esperanças, por isso não há razão para o pessimismo. “O penhasco está cheio de neve, mas as flores estão desabrochando”. Wei Wei, famoso escritor, usa um poema do Presidente Mao para descrever a situação atual de luta entre socialismo e imperialismo, algo muito apropriado e de profundo significado.

27 de junho de 1991

Fonte: Obras Escolhidas de Deng Liqun, Volume 3, Editora da China Contemporânea (edição chinesa)

Tradutor: Gabriel Martinez

Autor

  • Deng Liqun

    Deng Liqun nasceu em 27 de novembro de 1915, na província de Hunan, China, foi um destacado membro do Partido Comunista da China e líder na linha de propaganda ideológica. Formado pela Universidade de Pequim, ingressou no Partido em 1936. Foi secretário de Liu Shaoqi. Ocupou cargos importantes, como membro do 12ª Comitê Central. Deng Liqun faleceu em 10 de fevereiro de 2015.

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