Como compreender cientificamente a prática de Mao Tsé-tung em seus últimos anos? – Por ocasião do 130º aniversário do nascimento do Presidente Mao

Marx, já em 1844, durante a formulação da teoria do materialismo histórico, começou a reconhecer a relação que existe entre a teoria e as massas. Ele disse: “As armas da crítica não podem, de fato, substituir a crítica das armas; a força material tem de ser deposta por força material, mas a teoria também se converte em força material uma vez que se apossa dos homens. A teoria é capaz de prender os homens desde que demonstre sua verdade face ao homem, desde que se torne radical. Ser radical é atacar o problema em suas raízes.” (Obras Escolhidas de Marx e Engels, Volume 1, Editora do Povo, 1995, p. 9) “Assim como a filosofia encontra no proletariado suas armas materiais, o proletariado encontra na filosofia suas armas espirituais.” (Ibid., p. 15) Mao Tsé-tung, em “Sobre a Prática”, enfatizou que o conhecimento não apenas depende da prática, mas também deve retornar à prática, porque apenas voltando à prática é que a verdade de uma teoria pode ser finalmente testada, e somente retornando à prática o objetivo de transformar o mundo pode ser alcançado. A teoria de Mao Tsé-Tung sobre a revolução contínua também deve ser transformada em força material para a transformação do mundo pelo povo, assim como também deve retornar às grandes atividades práticas de luta pela produção, luta de classes e experimentação científica. Assim é possível sofrer o teste da prática, para realmente consolidar o estado socialista, realizar os direitos democráticos do povo, promover o desenvolvimento integral dos seres humanos e para prevenir a restauração do capitalismo. A decisão original de Mao Tsé-Tung de lançar o Movimento de Educação Socialista [1] tinha esse propósito, mas essa prática fez com que ele percebesse que ainda não era suficiente para realmente mobilizar as massas, para realmente expor o lado sombrio dentro do Partido, para realmente educar o povo. Como ele mesmo disse em 8 de fevereiro de 1967: “No passado, realizamos lutas no campo, nas fábricas, no setor cultural, conduzindo o Movimento de Educação Socialista, mas não conseguimos resolver o problema, porque não encontramos uma forma, um meio, de mobilização aberta, ampla e de baixo para cima das massas para expor nosso lado sombrio.” (“Obras Escolhidas de Mao Tsé-Tung desde a Fundação da Nação”, Volume 12, p. 220) Neste contexto histórico, Mao, em seus últimos anos, arriscando estilhaçar seu próprio corpo, com o espírito destemido de um revolucionário proletário, lançou o que ele mesmo chamou de segundo grande evento de sua vida: a Grande Revolução Cultural Proletária.

Após Marx ter sistematicamente exposto os princípios básicos do comunismo em “O Manifesto do Partido Comunista” em 1848, ele também se esforçou para transformá-lo em atividade prática do proletariado. Em 1871, a Comuna de Paris, estabelecida pela classe trabalhadora francesa derrubando o governo burguês francês, foi a primeira grande tentativa de tomada do poder pelo proletariado. Embora Marx e Engels tenham previsto que a Comuna de Paris, devido a várias condições históricas, não pôde triunfar definitivamente, ela de fato durou apenas 72 dias antes de fracassar. Mas antes do fracasso final da Comuna de Paris, Marx disse: “Mesmo que a Comuna seja esmagada, a luta será apenas adiada. Os princípios da Comuna são eternos e indestrutíveis e reaparecerão até que a classe trabalhadora seja libertada.” (“Obras Completas de Marx e Engels”, Volume 17, p. 677) Nesse momento, Marx começou a escrever “A Guerra Civil na França”. Enquanto avaliava altamente o significado histórico da Comuna de Paris, ele seriamente resumiu seus princípios e lições. A Revolução Cultural sob a orientação da teoria da revolução contínua de Mao Tsé-Tung foi também, essencialmente, uma grande tentativa de atividade prática proletária. Se a Comuna de Paris foi uma grande tentativa do proletariado de tomar o poder, então a Revolução Cultural foi uma grande tentativa e exercício de como consolidar o poder após tomá-lo. Como foi uma tentativa, especialmente a primeira tentativa, inevitavelmente encontrou imensa resistência e inevitavelmente carecia de experiência, levando a muitos problemas. De fato, isso aconteceu. Como a Comuna de Paris, a Revolução Cultural também fracassou, mas o fracasso da Revolução Cultural é apenas uma continuação da luta, seus princípios são eternos e nunca serão erradicados. A prática fracassada não necessariamente prova que a teoria que a orienta está errada. Os iniciadores do debate sobre o critério da verdade [2], iniciado em 1978, tentaram usar o critério marxista sobre a prática para provar o erro da teoria da revolução contínua. Anteriormente, escrevi dois artigos extensos comentando este debate, expondo-o profundamente e criticando seus propósitos e essência. Ou seja, o fracasso da Revolução Cultural não pode ser usado subjetiva e arbitrariamente para inferir que a teoria da revolução contínua é errada. Então, aqui estamos dante de duas questões: Primeiro, como avaliar cientificamente as atividades práticas dos últimos anos, principalmente a Revolução Cultural? Segundo, quais exatamente são as lições da Revolução Cultural? Este também é um grande tópico. Este artigo não pode expandir a discussão aqui, mas simplesmente propõe alguns pontos metodológicos para entender a Revolução Cultural.

1. Entender a Revolução Cultural a partir da busca da verdade nos fatos ou do idealismo subjetivo?

Um dos pontos-chave da teoria da continuidade da revolução de Mao Tsé-tung é que o alvo do movimento são os seguidores do caminho capitalista dentro do Partido. Antes da Revolução Cultural, um grande número de fatos objetivos já havia comprovado a existência de duas classes, dois caminhos e de luta de duas linhas dentro do Partido. De fato, existia a presença de elementos no Partido que seguiam o caminho capitalista. A notificação “16 de Maio”, o Décimo Primeiro Plenário do Oitavo Congresso do Partido, o dazibao [3] de Mao Tsé-Tung “Bombardear o Quartel-General” e os “Dezesseis Pontos” adotados, já haviam claramente apontado que havia de fato representantes da burguesia dentro do Partido,  um quartel-general burguês. Isso ficou provado pelos fatos objetivos da ditadura burguesa contra o povo, com a brutal supressão e perseguição das massas nos primeiros cinquenta e poucos dias da Revolução Cultural. Liu Shaoqi, Chen Yun, Deng Xiaoping e outros todos levantaram suas mãos em concordância nessas reuniões. Deng Xiaoping admitiu os fatos acima em suas três inspeções. No entanto, após a Revolução Cultural, essas pessoas ignoraram completamente esses fatos básicos, negaram e reverteram completamente os fatos. Esse tipo de atitude e método idealista subjetivo não pode realizar uma verdadeira análise e buscar a verdade dos fatos da Revolução Cultural. Além disso, o Comitê Central do Partido liderado por Mao Tsé-Tung sempre viu de forma dialética o caminho tomado nos dezessete anos antes da Revolução Cultural, afirmando a situação geral, ao mesmo tempo que apontava para os inúmeros problemas e suas raízes. Os relatórios políticos dos Nono e Décimo Congressos do Partido, bem como o relatório de trabalho do governo feito pelo Primeiro-Ministro Zhou Enlai, no Quarto Congresso Nacional do Povo, em 1974, fizeram análises que buscavam encontrar a verdade nos fatos, afirmando as conquistas e problemas durante os dezessete primeiros anos e o período da Revolução Cultural. Mas a “Resolução” (1981) diz: “A Revolução Cultural negou um grande número de políticas e conquistas corretas desde a fundação da nação, que de fato também negou em grande parte o trabalho do Comitê Central do Partido e do Governo do Povo, incluindo o próprio Camarada Mao Tsé-Tung; negou os esforços árduos e extraordinários do povo de todas as etnias na construção do socialismo.” [4] É isso a busca da verdade nos fatos?

2. Entender a Revolução Cultural utilizando o materialismo dialético e lei da unidade dos contrários ou utilizando a metafísica?

Anteriormente mencionei os “Elementos da Dialética” de Lenin, enfatizando que, ao utilizarmos o materialismo dialético, o nosso objetivo final é alcançar a “objetividade do exame”, compreendendo a verdadeira natureza das coisas, não casos individuais e argumentos menores, ou seja, buscar a verdade dos fatos. Por outro lado, para podermos buscar a verdade a partir dos fatos, também devemos usar a lei da unidade dos contrários e o pensamento do materialismo dialético. Como a Revolução Cultural foi uma primeira grande tentativa, inevitavelmente encontrou muitos fatos e fenômenos imprevistos. A lei da unidade dos contrários acredita que se deve distinguir entre aparência e essência, verdadeiro e falso, principal e secundário, e conscientemente ver a essência através da aparência. Por exemplo, as massas conscientemente usam suas armas para expor e criticar os pensamentos e comportamentos capitalistas daqueles que estão no poder. Neste processo, inevitavelmente haverá casos individuais de exagero ou incriminação de líderes, bem como casos de tratamento violento contra aqueles que estão no poder. Após a sublevação das massas, inevitavelmente haverá diferenças de opiniões, que levam à luta de facções, anarquismo, etc. Então, aqui, a essência e os princípios básicos da Revolução Cultural são as massas agindo de maneira consciente como donas da sociedade, exercendo os seus direitos democráticos, ousando criticar aqueles que estão no poder. No entanto, aqueles que negam a Revolução Cultural se esforçam para exagerar fenômenos não essenciais e falsas aparências como a essência da Revolução Cultural, considerando como aspecto principal aquilo que é secundário, generalizando a partir de uma visão parcial e distorcida a Revolução Cultural como “dez anos de catástrofe” e um movimento para “perseguir pessoas”. 

Conforme a “Resolução” indica, “a ‘Revolução Cultural’ era supostamente fundamentada nas massas, mas, na verdade, se desvinculou tanto da estrutura do Partido quanto do amplo apoio das massas populares. Com o início do movimento, as organizações do Partido em todos os níveis sofreram impactos, levando-as a um estado de paralisia ou quase paralisia. Líderes partidários de todas as instâncias enfrentaram críticas generalizadas e oposição, e as atividades organizacionais da maioria dos membros do Partido foram interrompidas. Muitos ativistas e membros leais, que sempre foram a base do Partido, foram marginalizados (…) Essa conjuntura criou oportunidades para oportunistas, pessoas ambiciosas e conspiradores, muitos dos quais ascenderam a posições de grande importância.” Esse exemplo de análise focada em episódios específicos e detalhes, não na essência, é tipicamente o que Lenin descrevia como método metafísico. Além disso, a dialética reconhece que as relações de causa e efeito entre os fenômenos são objetivas, e não subjetivas; envolvem relações complexas, ou seja, um único efeito pode ter várias causas, e uma causa pode gerar múltiplos efeitos. Isso requer uma análise concreta e detalhada dos problemas. Contudo, aqueles que rejeitam totalmente a Revolução Cultural tendem a atribuir todos os problemas ocorridos durante esse período exclusivamente a Mao Tsé-tung e suas teorias.

É um fato que, durante os estágios inicias da Revolução Cultural, muitos professores e estudantes foram criticados, sendo o fenômeno de “derrubar tudo” um fato objetivo. Porém, a causa fundamental é o resultado da implementação de uma linha burguesa e reacionária por Liu e Deng, não podendo ser atribuída a Mao Tsé-Tung e a própria Revolução Cultural. Quando alguns jornais promoveram extensivamente o fenômeno dos “pedidos de desculpas”, especialmente relacionados aos incidentes de Chen Xiaolu e Song Binbin [5], isso nada mais é do que uma típica distorção da relação de causa e efeito das coisas. Nos primeiros anos da Revolução Cultural, o desenvolvimento foi de fato afetado até certo ponto, mas depois, a ordem social e a produção industrial e agrícola voltaram basicamente aos trilhos, alcançando grandes realizações, algo que é reconhecido e afirmado plenamente até pela “Resolução” . 

Algumas pessoas negam completamente as grandes conquistas no campo econômico, chamando o período da Revolução Cultural de “dez anos de catástrofe”. Se tal período foi uma “catástrofe”, então deve haver um sujeito e um objeto da catástrofe. Quem seria, então, o sujeito e o objeto da catástrofe? Isso é algo que ninguém deixou claro. A Revolução Cultural foi iniciada pelo Presidente Mao, então o Presidente Mao é o sujeito da catástrofe? São as pessoas o objeto da catástrofe? Mesmo que a “Resolução” afirme e reconheça que conquistas econômicas foram obtidas no período da Revolução Cultural, tal reconhecimento não é atribuído à Revolução Cultural. Como diz a “Resolução”: 

“É desnecessário dizer que, de forma alguma, nenhuma destas conquistas devem ser atribuídas à “revolução cultural”, sem o qual nós teríamos alcançado conquistas ainda maiores para a nossa causa.” O segundo volume de “História do Partido Comunista da China” publicado pela Editora do Escritório de Pesquisa da História do Partido do Comitê Central do Partido Comunista da China, em 2011, diz ao falar sobre este assunto: “Todas essas conquistas foram realizadas pelas amplas massas de membros do Partido, líderes em todos os níveis do Partido e pelo povo sob condições extremamente difíceis, superando interferências frequentes de movimentos políticos, e essas conquistas não são produto da ‘Revolução Cultural’, pelo contrário, foram alcançadas apesar da interferência da ‘Revolução Cultural’.” (História do Partido Comunista da China, Volume 2, p. 975.) 

Isso é claramente outra distorção da relação de causa e efeito.

3. Entender a Revolução Cultural por meio da análise de classes ou da teoria dos valores universais?

O método de análise de classe é um método marxista extremamente importante, sendo fundamental a sua utilização para entendermos e avaliarmos a Revolução Cultural. Já que esta foi, essencialmente, uma luta de classes, todo o processo da Revolução Cultural, do começo ao fim, foi um reflexo da luta entre duas classes, dois caminhos e duas linhas. Como exemplo, podemos citar a implementação das ‘Quatro Liberdades’ na teoria da revolução contínua.

A “democracia”, de fato, é uma proposta que já havia sido feita desde época da Grécia e da China Antiga, e foi uma arma ideológica extremamente importante para a burguesia contra o feudalismo. No entanto, a base filosófica da teoria democrática pré-marxista, especialmente a burguesa, era baseada no humanismo abstrato ou, em termos modernos, na teoria dos “valores universais”. A base filosófica da teoria democrática marxista está baseada em uma perspectiva das massas, significando que tal “democracia” significa o direito democrático da vasta maioria do povo, tendo os trabalhadores como centro. O conceito de grande democracia [6] de Mao Tsé-tung incorpora essa teoria democrática, empoderando o povo através das Quatro Liberdades. A Revolução Cultural refletiu essa democracia. Em que país ou região na história humana tantas pessoas agiram conscientemente, usando as Quatro Liberdades para ousar expor e criticar aqueles que estavam no poder em todos os níveis? Um movimento de massas tão profundo e generalizado só poderia ter sido proposto por uma figura como Mao Tsé-Tung, que tinha a máxima fé e confiança nas massas, estava mais alinhado com a teoria da perspectiva marxista das massas e realmente refletia a consciência e o status do povo como mestres da sociedade. Apenas através da utilização da análise de classes marxista, bem como da perspectiva de massas, é que podemos avaliar isso de maneira científica. Naturalmente, muitos fenômenos negativos imprevistos, tais como as lutas violentas, faccionalismo e a ideia de ‘derrubar tudo’, apareceram no movimento de massas. Mas estes são meramente fenômenos secundários, não a essência, nem os princípios básicos da Revolução Cultural. Porém, aqueles que negam a ‘grande democracia’ da Revolução Cultural, por um lado, tomam certos fenômenos secundários como a essência e, por outro lado, avaliam os fenômenos democráticos da Revolução Cultural com base na teoria democrática burguesa fundamentada no humanismo abstrato. Por exemplo, o Sr. Xu Yaotong é um caso desses. (Ver o artigo do autor “A Teoria da Revolução Contínua do Presidente Mao Não está de Acordo com o Marxismo-Leninismo?”) A partir dessas concepções, é impossível chegar a uma conclusão que busca a verdade nos fatos.

4. A Revolução Cultural deve ser entendida sob a perspectiva da história mundial ou de um ponto de vista pessoal e restrito?

O famoso verso do poeta da Dinastia Tang, Wang Zhihuan diz que “Para ver mil milhas temos que subir a outro nível”, o que significa que apenas escalando mais alto é que se pode ver mais longe. Isso também é verdade para entender questões sociais e históricas, especialmente eventos importantes como a Revolução Cultural, que devem ser avaliados de uma perspectiva mais elevada. O materialismo histórico marxista é uma perspectiva elevada para entender questões sociais, e uma de suas visões importantes é que devemos entender os problemas sob a perspectiva da história mundial. A chamada “perspectiva da história mundial” significa colocar um evento dentro do todo interconectado e da inevitabilidade do desenvolvimento histórico humano. De acordo com o materialismo histórico, a história humana tem leis objetivas, se desenvolve e se transforma, progredindo do nível inferior para o superior, do simples para complexo. É um processo do movimento da contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, entre a base econômica e a superestrutura. Até agora, a humanidade experimentou os estágios históricos da sociedade primitiva, sociedade escravista, sociedade feudal e sociedade capitalista. As contradições inerentes são a fonte interna e a força motriz do desenvolvimento social. A sociedade capitalista, representando uma grande realização histórica da humanidade, também passa por um processo inevitável de surgimento, desenvolvimento, declínio e extinção. Este processo certamente levará ao seu declínio e extinção, contendo dentro de si seus próprios fatores de negação, que são o socialismo e o comunismo. Contudo, o materialismo histórico sustenta que este processo de desenvolvimento e substituição histórica não é linear nem suave. Inevitavelmente, ele será marcado por reviravoltas e regressões temporárias, além de lutas ferozes, agudas e complexas entre o avanço e o atraso.

Em 2012, o ex-premiê do Conselho de Estado [7], durante uma coletiva de imprensa do Congresso Nacional do Povo, propôs que devemos estar atentos à ‘restauração da Revolução Cultural’, admitindo, essencialmente, a possibilidade de uma regressão temporária no desenvolvimento histórico. Porém, a Revolução Cultural faz, essencialmente, parte da causa socialista. Qualquer regressão no desenvolvimento da causa socialista só pode significar a restauração do sistema antigo, isto é, a restauração do capitalismo. O que ele chamou de ‘restauração da Revolução Cultural’ é, essencialmente, um desenvolvimento e avanço da história. Ao classificar tal possibilidade como ‘regressão’, ele demonstra estar completamente contra a causa socialista e contra o povo.

A causa comunista e socialista visa negar e eliminar fundamentalmente os milhares de anos do sistema exploratório. Não pode ser concluída em apenas algumas décadas ou alguns séculos, mas isso definitivamente não altera a inevitabilidade histórica de coisas novas substituindo as antigas. A ideia de Mao Tsé-Tung sobre a luta de classes e os ‘dois devem’ em 1949, bem como a teoria da revolução contínua baseada nisso, demonstram a ‘visão de longo alcance’ de Mao Tsé-Tung à altura da história mundial. Como disse o Camarada Xi Jinping em seu discurso comemorativo do 120º aniversário do nascimento de Mao Tsé-tung, em 2013: “sua vida brilhante demonstra a visão política de longo alcance de um grande líder revolucionário”. Mao Tsé-Tung foi capaz de prever a emergência do fenômeno ‘Li Zicheng’ [7] dentro do Partido logo após os comunistas chineses terem tomado o poder e analisou especificamente suas raízes, propondo várias medidas para prevenir tal fenômeno, enfatizando que a revolução não deve parar. Sua ênfase, em seus últimos anos, na prevenção da restauração do capitalismo, lançando a Revolução Cultural, é uma manifestação proeminente e típica de sua visão política de longo alcance à altura da história mundial.

O camarada Wang Zhen, antes de sua morte, declarou que Mao Tsé-Tung estava cinquenta anos à frente de nós. Essa afirmação, somada à desintegração da antiga União Soviética e às mudanças dramáticas no Leste Europeu, ilustra de maneira notável essa característica dele. No entanto, no nosso Partido, há indivíduos que, incapazes de acompanhar o progresso visionário de Mao Tsé-tung, optam, com a perspectiva limitada de um pardal, por criticar, distorcer e difamar sua visão de longo alcance. Eles atribuem a ele, de forma arbitrária, acusações infundadas como “arrogância”, “distanciamento das massas”, “alienação da realidade”, “subjetivismo e despotismo pessoal”, “destruição do centralismo democrático interno do partido” e “culto à personalidade

Falando objetivamente, é verdade que, durante a Revolução Cultural, muitas pessoas foram injustiçadas e criticadas por razões diversas. Contudo, não é correto afirmar que todos os afetados durante esse período foram vítimas de injustiça ou perseguição. Paralelamente, a exposição e crítica dos erros e falhas daqueles que estavam no poder por parte de algumas massas representam um aspecto positivo, demonstrando grande preocupação, amor e educação para com a liderança. Nesse contexto, a essência da Revolução Cultural também se configura como um processo de educar, transformar e desenvolver as pessoas. Se alguém, motivado por críticas pessoais ou injustiças vividas, ressente-se da Revolução Cultural e adota uma postura pessoal e visão estreita, torna-se impossível compreender a Revolução Cultural de uma maneira objetiva e voltada à busca da verdade.

Mas não se pode ignorar que alguns deles não só estavam extremamente insatisfeitos com a Revolução Cultural na época, mas ainda guardam rancores até hoje. Por exemplo, Hu Fuming, o primeiro a propor o debate do chamado “critério de verdade” e ex-professor de filosofia na Universidade de Nanjing, é um caso desses. Mas também há vários camaradas que saltaram de suas posições pessoais e chegaram a conclusões opostas. Por exemplo, Wei Wei, um camarada conhecido, disse: “Sou um veterano com décadas de experiência revolucionária. Embora me considerem um intelectual, me vejo apenas como um modesto intelectual no Exército da Oitava Rota. Durante a Revolução Cultural, fui até rotulado como ‘autoridade acadêmica reacionária’ e enfrentei dificuldades, que não foram nem tão pequenas nem tão grandes. Olhando para trás, a situação parece até ridícula. Após a Revolução Cultural, é natural que eu tenha nutrido algumas queixas. Mas, refletindo sobre esses anos, especialmente considerando as mudanças dramáticas das últimas duas décadas, é assustador constatar como a sociedade mudou! Quase regredimos à velha sociedade de polarização e antagonismo de classes que presenciei na juventude. Essas memórias dolorosas voltam a pesar em meu coração. Ao meu redor, vejo o povo sofrendo novamente. Os impactos, a dor e a ansiedade que isso causa são indescritíveis. Após essas reflexões, acredito que a Grande Revolução Cultural Proletária, iniciada pelo Camarada Mao Zedong, foi absolutamente pelo bem imutável do estado proletário e pelos interesses de longo prazo do povo. Apesar das muitas falhas e erros, a direção básica estava correta e foi, em geral, afirmativa, teórica e estrategicamente acertada e necessária. A longo prazo, será benéfica e terá um significado profundo para o proletariado e as massas. No entanto, devido ao lançamento apressado e à preparação insuficiente, o movimento foi prejudicado por indivíduos ambiciosos e por alguns com uma linha ‘ultraesquerdista’ de ‘derrubar tudo, negar tudo’, resultando em graves erros. Isso inclui a confusão de diferentes tipos de contradições, um escopo de ataque muito amplo, muitas pessoas feridas e até ‘maus-tratos a prisioneiros’, desviando-se dos ensinamentos consistentes do Presidente Mao sobre educar e transformar pessoas e visões de mundo. Práticas extremas e incivilizadas, como rotulações e ‘julgamentos sumários’, também mancharam a reputação da Revolução Cultural. Essas são lições dolorosas que devem ser aprendidas e jamais repetidas.” (Referência: Artigo de Wei Wei “Sobre os Últimos Anos de Mao Zedong”)

Durante a Revolução Cultural, é verdade que muitos jovens instruídos enfrentaram dificuldades ao serem enviados para o campo e as montanhas. Se essa experiência for vista apenas sob a ótica do sofrimento pessoal, é natural que se atribua a causa simplesmente à Revolução Cultural, o que explica o fenômeno da “literatura da cicatriz” nos anos anteriores. No entanto, ao compreender essa ação sob uma perspectiva histórica mundial, percebe-se que o pensamento de Mao Tsé-tung é uma extensão do conceito marxista de que o trabalho cria e desenvolve pessoas. Ele nega fundamentalmente a milenar noção de que “o intelectual governa o trabalhador e o trabalhador é governado pelo intelectual”, permitindo assim uma compreensão mais objetiva do grande significado dessa ação. Eu, autor deste texto, sou um dos jovens instruídos que foram para o campo e as montanhas durante a Revolução Cultural. Sinto profundamente que o contato com trabalhadores e camponeses, bem como as dificuldades enfrentadas, constituem a melhor educação e treinamento para as pessoas. Essas experiências representam a maior riqueza espiritual da vida e uma poderosa fonte de inspiração e motivação para envolver-se em diversas atividades sociais hoje.

Tradução: Gabriel Martinez

Fonte: http://www.wyzxwk.com/Article/sichao/2023/11/483125.html

Notas do Tradutor

[1] O Movimento de Educação Socialista (1963-1965) foi um importante movimento de massas lançado pelo Comitê Central do Partido Comunista da China, sob a liderança de Mao Tsé-Tung, que buscava promover na sociedade o que ficou conhecido como as “Quatro Purificações” (purificação política, econômica, organizacional e ideológica). Fo através da experiência prática adquirida pelo Movimento de Educação Socialista, seus acertos e deficiências, é que Mao Tsé-Tung pôde desenvolver de forma mais profunda suas concepções sobre a necessidade de iniciar o movimento da Revolução Cultural. 

[2] Em 10 de maio de 1978, a revista “Tendências Teóricas”, publicação interna da Escola do Comitê Central do Partido Comunista da China, divulgou o artigo “A Prática é o Único Critério para Testar a Verdade”. Logo em seguida, no dia 11 de maio, o “Guanming Daily” veiculou o mesmo artigo em nome de um comentarista especial, e a Agência Xinhua o distribuiu nacionalmente. No artigo, argumenta-se que a prática social é o único critério para se comprovar a verdade. O artigo apontava para a necessidade de superar supostas “áreas restritas” do conhecimento impostas pelo “Bando dos Quatro”. O artigo gerou um grande debate nos círculos teóricos chineses, bem como despertou a atenção de setores mais amplos da população. O debate também foi fundamental para estabelecer os fundamentos ideológicos para a política de Reforma e Abertura. Também abriu espaço para a propagação e difusão de ideias liberais burguesas e anti-maoistas, especialmente entre os círculos intelectuais. 

[3] Dazibao, ou “Jornais de Grandes Carácteres” eram os cartazes com criticas e opiniões das massas que podiam ser pendurados e colocados nos murais de fábricas, escolas, universidades, etc. A prática de pendurar “dazibaos” é anterior ao período socialista, mas foi a partir do início da construção do socialismo – em especial durante a Revolução Cultural – que a sua utilização atingiu níveis gigantescos. 

[4] O documento Resolução Sobre Certas Questões na História de Nosso Partido Desde a Fundação da República Popular da China, de 27 de Junho de 1981, pode ser lido no link a seguir: https://www.marxists.org/portugues/tematica/1981/06/27.htm

[5] Chen Xiaolu (1946-2018), filho do Marechal Chen Yi, atuou na Revolução Cultural como um Guarda Vermelho, fundando o grupo ‘Corpo de Polícia da Guarda Vermelha’. Em 2013, durante uma visita à sua antiga escola em Pequim, ele pediu ‘desculpas’ por suas ações na Revolução Cultural, admitindo ter cometido ‘crimes’ e participado da perseguição a estudantes e professores. De maneira semelhante, Song Binbin (1949-), filha do general Song Renqiong e uma destacada líder estudantil e Guarda Vermelha naquele período, expressou suas ‘desculpas’ pela participação na Revolução Cultural em 2014. Os pedidos de desculpas de ambas as figuras geraram críticas de muitos intelectuais da esquerda chinesa, que viram nas atitudes uma forma velada dos dois ex-guardas vermelhos de se eximirem da culpa pessoal pelos graves crimes cometidos, atribuindo a responsabilidade de seus atos à própria Revolução Cultural e a Mao Tsé-tung. É importante ressaltar que as práticas de violência ocorridas na Revolução Cultural foram severamente criticadas tanto pelo Partido Comunista quanto pelo próprio Mao Tsé-Tung.

[6] A “grande democracia” refere-se aos principais métodos de “expressar-se, dar opiniões, debater extensivamente e publicar grandes cartazes” (abreviados como as “Quatro Grandes”) foi uma forma de democracia socialista explorada e escolhida por Mao Tsé-tung e pelo Partido Comunista da China durante o período de construção socialista abrangente. A “grande democracia” foi aplicada em diversos campos da economia, política e vida social, sendo utilizada amplamente durante a Revolução Cultural, porém, posteriormente, depois do falecimento de Mao Tsé-tung, o Partido Comunista da China passou a criticar tal formulação, condenando-a como um desvio de tipo “esquerdista”.

[7] Referência a Wen Jiabao, ex-primeiro-ministro da República Popular da China, durante os anos de 2003 a 2013

[8] Li Zicheng foi um líder camponês de grande importância que contribuiu para a queda da dinastia Ming em 1644, fundando a dinastia Shun (1644-1645). Mao Tsé-Tung considerava a revolta camponesa liderada por Li Zicheng uma das mais notáveis guerras camponesas ocorridas na China ao longo de mais de dois mil anos. No entanto, devido ao orgulho e à corrupção de seus líderes, o regime resultante da revolta desmoronou rapidamente. Mao Tsé-Tung frequentemente recorria ao exemplo de Li Zicheng para alertar os membros e líderes do Partido Comunista da China. Ele enfatizava a necessidade de os comunistas manterem sempre os laços com o povo e evitarem a degeneração política, lembrando-os de que também seriam testados na governança e corriam o risco de cair nas armadilhas da burguesia. 

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